Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, riquíssima de significado, a Igreja inaugura a sua semana maior, a Semana Santa. Vislumbramos o Senhor subir e chegar a Jerusalém, a Sua Cidade, e nós, também, subimos e chegamos com Ele. Entre “hosanas” e crucifica-O, assistiremos e participaremos a ascensão de Jesus – e a nossa, consequentemente – ao mais alto grau (Cf. Is 52,13): ao da Cruz.
Mas, o que Jesus foi fazer em Jerusalém? Imediatamente, a nossa resposta poderia soar de maneira automática: foi fazer a Sua Páscoa para a nossa salvação. Entretanto, pela Liturgia da Palavra de hoje, temos a descrição, pelos diversos termos e ideias utilizados pelos autores sagrados, de como esta se deu, principalmente relacionados às motivações do próprio Salvador.
Já na Primeira Leitura, o Profeta Isaías, no Cântico do Servo Sofredor, apresenta-nos: “O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; […] me excita o ouvido, para prestar atenção como discípulo” (Is 50,4). Se mirarmos o Evangelho, a narrativa da Paixão do Senhor segundo Marcos, vemos que o Senhor somente fala enquanto sinal de Sua divindade (cf. Mc 14,60-62; 15,2-5.39). E isto de escuta e audição faz sentido na Sua atitude humilde e confiante em Deus, Seu Pai (e pelo Sangue derramado do Filho, também nosso Pai). É daí que temos na Segunda Leitura, da Carta aos Filipenses: “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). Ainda em relação à inaudita obediência do Cristo, vemos, como disse Isaías, a certeza que move o Servo Sofredor, o Deus e Homem da Cruz: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque que não sairei humilhado” (Is 50,7).
Esta certeza é o que faz o Senhor marchar a Jerusalém. Não amedrontado, mas resoluto; não Se contentando com os “vivas” e as bendições das multidões, mas desejoso de levar às últimas consequências o Seu querer divino, em total sintonia com o Pai, no Espírito Santo; ainda que tenha de pagar um alto preço: o da cruz, precedido de bofetões, cusparadas e escárnios (cf. Is 50,6, Sl 21,8, Mc 14,65.15,16-20), sofridos em admirável paciência.
Por tudo isso, os hosanas e saudações “àquele que vem em nome do Senhor, o rei de Israel” (Jo 12,13), o verdadeiro e tão esperado, fazem sentido. Sim, porque no seu estrito significado, hosana é o clamor que a humanidade dirige a Deus, implorando por salvação. Creio que nestes últimos tempos em que Cristo, a Igreja e a sua fé são zombados e minimizados por aqueles que se julgam grandes, este grito deve ecoar mais fortemente pelos cristãos: “Vinde, Senhor, e salvai-nos! Apiedai-vos de nós! Hosana ao Cristo de Deus!”. Porque é Dele que nos vem o socorro; porque, Dele, é que nos vem a salvação, conquistada com um alto custo: o do Sangue do Cordeiro divino, do Redentor, que tira o pecado do mundo, Deus bendito para sempre. Amém.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).