Na Barra dos Coqueiros, dos muitos testemunhos da devoção a Jesus com o título de Senhor dos Navegantes, três são os mais eloquentes: as ruínas de uma capela que deveria ser a sede da primeira paróquia da Barra , a ser consagrada a Nossa Senhora dos Mares, no povoado Porto Grande; o relato do Comendador Travassos e o Livro de Batismos da Paroquia de Santo Amaro das Grotas (sic). De fato, ainda hoje, onde era a povoação do Porto Grande, entre os atuais povoados Canal e Pontal da Barra, encontram-se as ruínas que denunciam a existência de devotos do Senhor dos navegantes naquelas paragens. Sustentam esta afirmação, os relatos de batismos, naquela capela por parte dos párocos de Santo Amaro, à qual toda a Barra dos coqueiros estava eclesiasticamente submetida.
Conforme relato dos mais antigos, sustentados pelo texto do Comendador Travassos, o Imperador Dom Pedro II, visitando Sergipe, adentrou no estuário do rio Pomonga, visitou uma propriedade particular e, lá, adentrou numa capela e venerou a Imagem de Bom Jesus dos Navegantes.
Muitas são as versões, tanto sobre o fim do Povoado, quanto do progressivo deterioro da igrejinha do Bom Jesus; assim que, o que nos resta hoje são: as ruínas da igreja, à espera de tombamento e, a imagem primitiva, custodiada na igreja de São Sebastião, no povoado Canal. Trata-se de uma imagem de Jesus crucificado, em estilo barroco, como era comum no século 18 e 19.
Lamentavelmente, a imagem está sendo carcomida pelo tempo e pelos cupins, carecendo de tratamento, conservação e restauro.
Gênese da devoção
A devoção, oriunda da Portugal, ancora no Brasil em terras baianas com o portentoso nome de Senhor do Bonfim. O Bom Jesus de navegantes é, simbolicamente representado com a mesma imagem do Senhor do Bonfim: Jesus Crucificado. Para os “homens do mar”, a travessia do Atlântico exigia não somente grande habilidade, mas, também, uma grande fé em Deus para que todos chegassem sãos e salvos em seus destinos; tendo, assim, suas viagens, um “bom fim”. A imagem de Jesus crucificado indicava não somente o encontro com a morte, mas, na morte, a certeza de que a passagem pela cruz é condição para contemplar a glória da ressurreição. Daí, na Bahia em Aracaju, no povoado Porto Grande termos na imagem de Jesus crucificado a representação do Senhor dos Navegantes.
Construção da Capela
A Atalaia Nova foi, desde muito tempo, povoada pelos povos originários, como confirmam os sítios arqueológicos. Vivia gente que sobrevivia da pesca; passam a viver colonos pescadores e, após a transferência da Capital para Aracaju, aqui os “veranistas” encontravam um aprazível lugar pra suas férias e seus fins de semana, perto da capital, de fronte pro mar.
Na Atalaia Nova veraneava o Padre Luciano José Cabral Duarte. Foi dele a sugestão da construção de uma igrejinha na Atalaia Nova. Isto aconteceu após 1953, pois, nesta data, chegava em Aracaju a religiosa do Instituto das Missionárias de Jesus crucificado, a Irmã Zorilda Galrão. Baiana, irmã de “Dona Mariá – fundadora e diretora do renomado Colégio do Salvador -, esta freira foi quem, acolhendo a ideia de Padre Luciano, mobilizou a população nativa para que, com donativos edificasse a capela de Bom Jesus dos Navegantes, no mesmo lugar onde hoje esta edificada a Igreja Matriz. Uma foto reproduz as feições da capela, após sua conclusão.
Posteriormente a capela conheceu uma primeira ampliação com mudança da fachada.
O derradeiro formato, o atual, surgiu durante o arcebispado de Dom José Palmeira Lessa que incubira o padre Jadilson Andrade Santos, pároco da Paróquia Santa Luzia, da ampliação e preparação de duas novas igrejas que servissem de Matriz para duas novas paróquia em solo barracoqueirense: Bom Jesus dos Navegantes, na Atalaia Nova e São Miguel Arcanjo, na Praia do Porto.
Elevação
No dia primeiro de novembro de 2014, em solene celebração Eucarística, era instalada a Paróquia de Bom Jesus dos Navegantes, no Povoado Atalaia Nova. Naquela mesma celebração era empossado o seu primeiro Pároco, o Padre José Bispo Santos Filho.
Coube a este pastor, enriquecer a nova paroquia como a implantação de pastorais e movimentos como os “Jovens sarados”, as pastorais da família, do dízimo; o fortalecimentos da Legião de Maria,… incansável, o padre Zé, como é carinhosamente conhecido, vivia de dar assistência aos paroquianos enfermos, de incentivar a busca dos sacramentos, especialmente do Matrimônio, por meio da promoção de celebrações comunitárias. Foi o incentivador de algumas devoções como a do glorioso São Jorge.
Não fosse a pandemia de Covid, muito mais teria feito. Mesmo assim, em 11 de fevereiro de 2022, o padre Zé encerrou seu pastoreio, passando o cuidado pastoral ao padre Claudio Dionizio.
De lá pra cá, só nos resta agradecer a Deus pela inspiração de Dom Luciano, pela ação missionária de Irmã Zorilda, pelo protagonismo do povo – nativo ou não -, que tem feito, naquele canto da Ilha de Santa Luzia, sob o patrocínio de Nossa Senhora dos Mares, a mais antiga devoção mariana da Ilha, resplandecer a luz do Evangelho qual farol na noite escura da vida dos navegantes.
Padre Claudio Dionizio, pároco.
Fotos: Acervo da paróquia Bom Jesus dos Navegantes.