Os planejamentos das pastorais sociais partem de uma escuta profunda da voz de Deus que fala através da Palavra Sagrada. Os projetos das pastorais são traçados por Deus. É Ele quem orienta e fortalece para que realizemos a sua vontade que deve reinar sobre nós. Colocando-nos diante d’Ele, ouvimos a sua voz que diz: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo […] e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos”. Antes mesmo de prepararmos o coração para ouvi-Lo, Deus está sempre disponível, enxugando lágrimas, curando as feridas e nos presenteando com os largos sorrisos da graça divina (Êxodo 3, 7).

A vida de Maria, a Peregrina da Esperança, é um verdadeiro ícone para as pastorais sociais. Ao contemplá-la, as pastorais sabem que devem responder aos apelos de Deus, dizendo tão somente: “Eis aqui a serva do Senhor”. Esta postura de Maria, infunde nos agentes pastorais a virtude da confiança n’Aquele que chama, capacita e acompanha ao longo de todo o percurso missionário. Maria não impõe condições, nem quer conhecer os detalhes, pois para Ela basta a Palavra amorosa do Deus da Vida (Lucas 1, 38).

A resposta de Maria que dinamiza a ação das pastorais sociais, prossegue da seguinte forma: Faça-se em mim segundo a tua vontade. Se usássemos uma expressão estreitamente teológica, à luz da leitura proposta pelo apóstolo Paulo, diríamos que há uma kenosis na vida de Maria. A kenosis implica um esvaziamento, um abandono de si, para que a vontade de Deus se realize plenamente em nós e por meio de nós. Para conhecê-la, é fundamental que nos coloquemos diante d’Ele como Samuel, que responde aos apelos de Deus dizendo: “Fala, Senhor, teu servo escuta!” (Lucas 1, 38; Filipenses 2, 6-8; 1 Samuel 3, 8-10).

Ouvindo a voz de Deus, fazemos a experiência da Palavra que é Pão que alimenta o coração. Assim, seguimos os passos determinantes de Maria que animam o itinerário espiritual das pastorais sociais. O Evangelho de Lucas afirma que Maria percorreu uma região montanhosa para ir ao encontro de Isabel. Podemos entender que tal região descrita pelo evangelista não diz respeito apenas a um conjunto de dificuldades geográficas, mas sobretudo aponta para os desafios sociais e existenciais vivenciados pelas pessoas que acharam amparo no Coração de Maria, a Peregrina da Esperança, que cuida com amor de todos os seus filhos (Lucas 1, 39).

Desse modo, as pastorais sociais percorrem as regiões montanhosas da sociedade hodierna, superando os obstáculos das desigualdades socioeconômicas, do preconceito, da exclusão, da fome e da obesidade, e das variadas formas de marginalização. Caminhar ao lado de Maria, implica abraçar o apelo do santo Evangelho, que diz: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis”. Acolher as lições de Maria nos coloca num movimento de conversão pastoral, acendendo em nós a luz da compaixão, para que enxerguemos Jesus Menino com os excluídos em busca de abrigo na manjedoura aconchegante do nosso coração (Lucas 21, 34).

Pe. João Claudio é pároco da paróquia Santa Teresinha (Bairro Robalo) e Assistente eclesiástico das Pastorais Sociais.