Francisco, mais que um Papa, foi uma Epifania: parece clichê ou adágio piegas, mas não. Francisco foi um sinal espiritual de grande profundidade nestes tempos sombrios em que o mundo vive: guerras, violência, desumanidade, exclusão, ódio, preconceito e tanta desordem moral e ética. Certamente um Papa de gestos profundos e humanos, soube integrar fé e obra. Não parou no poder pelo poder. Ele não se serviu do poder, mas serviu ao poder, propondo a cura do poder religioso, às vezes sinuoso e distópico com os valores do Evangelho, caindo na tentação do autoritarismo e da violência em nome da fé e dos valores cristãos. Devemos lembrar que as investidas contra o Magistério do Papa Francisco em nada têm a ver com a fidelidade à Doutrina; ele jamais propôs relativismo contra o que a Igreja ensina. No mundo em voga, onde há empresas que faturam propagando mentira e maldade, ele, ao modo de Jesus, foi algoz dos humanos que caíram na corrupção da consciência e da pervertida compreensão da religião. A sociedade atual é marcada pela devastadora alienação provocada pela falta de seriedade nos meios de comunicação e pelos interesses obtusos de pseudos cristãos. A Via-Crucis desse tempo é abraçar o Amor e os valores cristãos, permeados de um humanismo integral, e ser chamado maldosamente de ‘comunista’ e transgressor da fé e da moral. O discurso de muitos que empreitam as tantas fileiras de páginas ditas católicas está imbuído de desejo de poder e recursos financeiros. O Evangelho é gratuidade que plenifica a comunhão de bens e dons. O povo de Deus é sensível e generoso, facilmente enganado, devido às suas feridas emocionais e fragilidades sociais. Francisco começou sua Epifania em 2013 sem grandeza, pediu orações de seu povo, foi morar numa hospedaria. Ontem voltou na sua cátedra de rodas, abençoou o mundo de Roma, deu uma volta e voltou para seu aposento. Ontem dizia na minha homilia que, na madrugada, Maria Madalena correu, não para ver o Corpo de Jesus, mas o seu Senhor. Era o primeiro dia, o dia da Criação e da Plenitude. Era Páscoa. Francisco ainda fará ecos de salvação. Homens como ele não morrem. Em Cristo vive eternamente. Ele, peregrino da Esperança!
Pe. Anderson Gomes, pároco da Paróquia São Pedro Pescador (Bairro Industrial, Aracaju) e representante do Clero. (Foto capa: vaticannews.va).