Nesta ocasião em que festejamos a Solenidade da Assunção de Maria, queremos pensar e refletir nas diversas dificuldades que o cristão devoto da Virgem tem em seguir, num intento da fidelidade à Jesus e à Sua Santa Igreja, o caminho para o Céu.
“Um servo de Maria jamais perecerá”. Isto porque a fidelidade do devoto da Beatíssima Virgem Maria encontra o seu sustento na ilimitação do amor de Deus, que nos move e nos sustenta. Para tanto, basta-nos o grave dever de estarmos abertos a este amor numa proposição convicta de abraçar, sempre em nossa vida, a ordem de Maria aos servos das bodas de Caná (a quem poderemos considerar os primeiros que obedecem aos apelos da Mãe do Senhor e nossa): “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
Para a fidelidade a Deus faz-se, sem exagero algum, extremamente necessária a devoção a Maria Santíssima. Pois, o seu devoto verá nela o modelo de obediência explanado no seu ‘Faça-se’ (cf. Lc 1,38) – e a partir dele. Daí é que o Santo jesuíta João Berchmans declara: “Se amo a Maria, estou certo da minha perseverança e de Deus obtenho tudo o que quiser. […] Quero amar a Maria, quero amá-la sempre. […] Oh! Como esta boa Mãe excede em amor a todos os seus filhos!”.
A devoção a Maria é caminho de perfeição. Assim, Deus põe no coração e na vida dos cristãos a grande espiritualidade aconselhada pelo Apóstolo da Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort: “Se estabelecermos, portanto, a sólida devoção à Santíssima Virgem, teremos contribuído para estabelecer com mais perfeição a devoção a Jesus Cristo, teremos proporcionado um meio fácil e seguro de achar Jesus Cristo”. E o padre francês conclui: “Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus Cristo, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio. Mas é tão o contrário, que […] esta devoção só nos é necessária para encontrar Jesus Cristo, amá-lo ternamente e fielmente servi-lo”. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 62).
Ser devoto de Maria, como promoção da fidelidade a Deus, sustenta-nos nas dificuldades da vida, a fim de não afundarmos em nossos medos interiores ou nos perigos e tentações externas a nós. E a Igreja, Mãe e Mestra, tão logo da nossa infância, instrui-nos quando nos ensina e admoesta a recitação da oração Salve Rainha: “[…] a vós bradamos, os degredados filhos de Eva; a vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. […] e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre”. Porque entendemos que, na Sua Providência, diante das situações de prova de nossa existência, a fim de que não pequemos ou abandonemos a fé, Deus nos concede Maria, para que, com o Seu Patrocínio de Mãe protetora e de Senhora poderosa, venha em nosso socorro como sinal de fidelidade a Ele, sustentando a nossa fé, e, com a Sua materna intercessão, implorando ao Senhor para que a nossa fé não desfaleça (cf. Lc 22,32), fazendo com que sempre demonstremos a Deus, por ela, o nosso amor, que deve ser crescente e constante em nossas práticas cotidianas.
Neste dia da Solenidade da Assunção de Maria ao Céu, para a sua glorificação, somos chamados pela Santa Igreja de Cristo a contrastar a nossa pobre vida com a de Maria Santíssima. Não nos esqueçamos de que, também ela, foi provada pelos sofrimentos. Daí é que na Ladainha Lauretanea termos as invocações “Rainha dos Mártires; Rainha dos Confessores”; e na antiga iconografia representarem a Santíssima Virgem com a palma do martírio, principalmente porque a Igreja vê na Virgem das Dores uma participação estreita à Paixão do seu Filho, nosso Salvador. Por isso, é que na proclamação do dogma da Assunção de Maria, o venerável Papa Pio XII encetar: “Os fiéis, guiados e instruídos pelos Pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a Virgem Maria, durante a Sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe trespassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu”. (Munificentíssimus Deus, 14). Entretanto, por sua fidelidade anexa à fidelidade de Deus, numa relação entranhada de amor que ornou a Virgem Maria e Deus, todos nós sabemos e cremos que a Virgem Beatíssima foi ornada com as altas glórias do Reino de Cristo, por isso foi assunta. E esta é a recompensa que nos está reservada, cuja promessa do Salvador é antecipada em Maria, a Mulher Fiel, a Senhora da Glória.
Trilhando o seu exemplo, a Mãe do Senhor e nossa inspira-nos a enfrentar, confiantemente, as dificuldades da vida, as perseguições, os tormentos, as borrascas que querem nos afastar de Deus, afundando-nos em nossas fraquezas e pecados. Seja o Coração Imaculado de Maria a nossa âncora nesta vida, que nos retenha em Deus, e o nosso porto seguro e feliz quando da nossa chegada ao Céu.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).