A primeira tarefa que temos diante dos olhos consiste em buscar identificar uma concepção de espiritualidade. Compreenderemos espiritualidade como o estilo de vida que cultivamos, através dos pensamentos, palavras, gestos e omissões, como rezamos com a Santa Igreja. É fundamental saber o que estamos cultivando sobre a terra do nosso coração, como está sendo manejada e se está acolhendo as sementes da Palavra Sagrada.
Ao longo de toda a sua missão, Jesus demonstrou uma preocupação especial com o coração. Não se trata de uma espécie de fuga do mundo, como se estivéssemos abrindo mão do nosso papel de cidadãos. Na verdade, Jesus sabe que tudo se inicia dentro de nós. É no mais íntimo do nosso ser que elaboramos as nossas perspectivas, a nossa visão de mundo e como enxergamos as pessoas que estão ao nosso redor. De acordo com a Palavra Sagrada, a pessoa humana jamais deve ser vista como alvo a ser abatido, mas sempre como irmão e irmã, como próximo que deve ser acolhido.
A espiritualidade apresentada pelo próprio Jesus no seu Evangelho possui a marca indelével da fraternidade. A centralidade do coração na pregação de Jesus não pode ser vista como uma espécie de intimismo espiritual, nem como a formação de uma multidão de rezadores desatentos que romperam as relações com o silêncio. A oração de Jesus no Evangelho é cheia de silêncio. O coração que não silencia se torna incapaz de ouvir a voz de Deus. Se não o ouvirmos, como acolheremos a sua vontade?
O coração é cultivado através da espiritualidade, ou seja, através de um estilo de vida que busca construir uma verdadeira relação de intimidade com Jesus, como fizera Santa Teresinha, nossa padroeira querida. Guiada por seu pai, São Luís Martin, Teresinha procurava Jesus, diariamente, visitando-O na sua paróquia, colocando-se diante d’Ele no sacrário, receptáculo do Coração Eucarístico do Filho de Deus, nosso Salvador. O maior desejo de Santa Teresinha era permanecer diante da Eucaristia.
A espiritualidade de Santa Teresinha está fundamentada sobre esta relação de intimidade com Jesus. O seu coração sempre esteve aos pés de Jesus no sacrário. Assim, Jesus pôde transformar a sua vida num grande canto de louvor à fraternidade que alcança o coração da humanidade. Diante do sacrário, Teresinha descobriu a sua verdadeira identidade, a sua vocação de ser e propagar o amor que brota das mãos de Jesus, traduzindo-se em gestos concretos de fraternidade, perdão e reconciliação. Com Santa Teresinha, oremos: extrair amor do coração e distribuí-lo com os irmãos.
Pe. João Claudio, pároco da paróquia Santa Teresinha (Robalo)