Diante da admiração dos conterrâneos de Jesus cabe-nos um reforço da nossa fé, que nos impele a um acolhimento, a um compromisso com o próprio Deus.
Diz-nos o Evangelho acerca do assombro dos nazarenos causado pela admiração às palavras de Jesus: “Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: ‘De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria?’” (Mc 6,2). A tais questionamentos, percebe-se o grande descrédito dos concidadãos de Jesus a Seu respeito, que O viam no imediatismo de Sua humanidade perfeita, não professando a fé em Sua divindade: “E ali [Jesus] não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles” (6,5-6)
Mas, à pergunta dos nazarenos, temos, pela fé, a resposta da qual precisam: Ele é o Cristo, Deus com o Pai e o Espírito Santo, é a Sabedoria Encarnada, recebendo os Seus atributos do Pai, por ser o Filho e Eterno Gerado, tal como professamos no Credo Niceno-Constantinopolitano: “[Creio em Jesus Cristo] gerado, não criado, consubstancial ao Pai; por Ele todas as coisas foram feitas”. Ele, humana e cronologicamente, não recebeu a sabedoria de nenhum mortal. Mas, esta sabedoria não a possui meramente, mas é expressão do Seu Ser: Cristo é a Sabedoria Eterna, por meio de Quem tudo foi criado, e que, na plenitude dos tempos, encarnou-Se para, salvando-nos, implantar em nosso coração os germes, as fagulhas de Sua Sabedoria, do Seu Ser enfim.
Nas Sagradas Escrituras, temos – e muito! – da tratativa do Cristo como Sabedoria, até mesmo antes de Sua Encarnação. E é interessante que este título de Sabedoria para o Cristo não está encerrado em Si, numa ideia de absoluto, mas é um convite aos que O amam de serem participantes deste Seu caráter divino. Assim, lemos no livro dos Provérbios, por exemplo: “O Senhor me criou, como primícias de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra. Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos. Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado. Antes que assentados fossem os montes, antes dos outeiros, fui dada à luz; antes que fossem feitos a terra e os campos e os primeiros elementos da poeira do mundo. Quando ele preparava os céus, ali estava eu; quando traçou o horizonte na superfície do abismo, quando firmou as nuvens no alto, quando dominou as fontes do abismo, quando impôs regras ao mar, para que suas águas não transpusessem os limites, quando assentou os fundamentos da terra, junto a ele estava eu como artífice, brincando todo o tempo diante dele, brincando sobre o globo de sua terra, achando as minhas delícias junto aos filhos dos homens. E agora, meus filhos, escutai-me: felizes aqueles que guardam os meus caminhos. Ouvi minha instrução para serdes sábios, não a rejeiteis” (Pv 8,21-32).
Diante de um mundo que prega uma pseudo-sabedoria, que mais se assemelha a uma loucura porque a sua lógica é afastar a alma de Deus para os prazeres e para um ‘aproveitar a vida’, irresponsável e desonestamente, temos o conselho que o Apóstolo São Tiago nos dá: “Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre com um bom proceder as suas obras repassadas de doçura e de sabedoria. Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que vem do alto, mas é uma sabedoria terrena, humana, diabólica. Onde houver ciúme e contenda, ali há também perturbação e toda espécie de vícios. A sabedoria, porém, que vem de cima [que é do Alto, e, portanto, Celeste], é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento” (Tg 3,13-17).
Que, em relação a nós, inseridos na vida de Cristo, também os que nos interpelam com os seus olhares igualmente se questionem: “De onde receberam eles tudo isto? Como conseguiram tanta sabedoria?”. E, com naturalidade, contemplando as nossas obras e palavras cristãs, inequivocamente, saibam que tudo o que somos vem de Deus; é Sua ação em nós, sensivelmente dóceis à Sua Palavra que nos orienta, que nos elucida, nos converte, nos cura e nos modela a Si; que participamos, com a nossa humanidade eivada pela graça divina, da sabedoria eterna do Cristo – e que é Cristo –, que habita em nós pelo Seu Espírito Santo.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).