Deus “deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou como resgate por todos” (1Ts 2,4-6).
Muito embora na I Leitura de hoje encontremos o preceito do repouso sabatino, como “dia do descanso dedicado ao Senhor” (Dt 5,14), Jesus Cristo não Se esquiva de libertar, de dignificar o homem, ainda que contrariando aquilo que os judeus pensavam: no sábado nada se faz porque Deus descansou. Mas, quem disse que Jesus desobedeceu ao preceito do Deuteronômio trazido hoje e que alude ao sábado? Não. Jesus o cumpre à risca. Aquele que é o Legislador, obedece-no no sentido mais profundo, pleno e alto. O Senhor Jesus desempenha a lembrança preceituada pelo Pentateuco: “Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e com braço estendido” (Dt 5,15). Muito embora sendo o eminentemente Livre, e, portanto, a Liberdade Suma que Se oferece à humanidade, o Senhor Jesus Cristo “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fl 2,7). Fez escravo para nos fazer senhores; servo para sermos livres. Inclusive, n’Ele, também sobre o sábado, e, enfim, sobre toda a lei judaica, que aprisionava o homem; e, muito mais do que a Lei judaica, pedagoga até Cristo, Este fez de nós livres do pecado, de quem éramos servos, escravos sem esperança.
Muito embora, o Senhor Jesus Cristo veio, não para abolir a Lei, mas para dar-lhe pleno cumprimento, levando-a à perfeição (cf. Mt 5,17), “pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1,17), Ele entende que o Seu trabalho, o Seu cansaço é libertação, é salvação, é dignificação da criatura humana, até então oprimida, castigada pelo maligno e suas obras de pecado. Não importa ao Senhor Se cansar, ainda que num sábado, para cumprir a Sua missão salvadora confiada a Ele pelo Pai. Por isso, Santo Hilário de Poitiers afirmar: “A obra de Deus é a obra de Cristo; o repouso de Deus é Cristo Deus; assim que todas as coisas que são de Deus, são verdadeiras em Cristo, no modo que o Pai possa n’Ele encontrar repouso” (In Psalm., 94, 48 s.).
São Paulo, ao escrever a sua Segunda Carta aos Coríntios, na II Leitura de hoje, reconhece que tudo o que somos vem de Deus. E ainda mais: considera esse ‘tudo’ como poder extraordinário do ser divino. Para tanto, observando a sua própria vida – e na sua, também a nossa vida fiel –, Paulo dirá: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos. De fato, nós, os vivos, somos continuamente entregues à morte, por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal” (2Cor 4,8-11). A nossa dignidade, a nossa liberdade é dom de Deus, imerecido por nós, porque, como ainda nos diz o Apóstolo das nações, escrevendo à Igreja na Galácia: “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gl 5,1).
Também nós, cristãos – portanto, livres -, deveremos ser sinais de libertação para os nossos irmãos, para a humanidade de uma maneira geral. Se a vida de Cristo é translucidada na nossa, por que ainda insistimos – com nossos pecados e fraquezas – ser empecilhos, atrapalhações para que muitos desistam em viver, na inteireza, esta liberdade em Cristo (fora de Quem há só libertinagem), ou mesmo a repilam por causa de nossos contratestemunhos de vida velha, disforme a de Cristo? Pensemos, reflitamos, convertamo-nos!
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).