06 de setembro, às 7h27, partiu o nosso decano no ministério presbiteral… combateu com Aquele que sempre nos chama a Ele: Cristo!
As palavras do Pe. Rinaldo hoje foram simples e fortes diante do Altar do Sagrado Coração de Jesus, paróquia onde o vigário serviu.
Padre Raul, ao chegar à consciência da sua Páscoa, pediu que fosse revestido de uma túnica que ele tinha, simples e significativa para si, e de uma estola de São Francisco, o Pobrezinho. E ainda de pés descalços… Parecendo soar como abstração, mas não: profundo mergulho num mistério insondável e numa certeza que nos faz renascer diariamente, na epiclese contínua da Igreja: “Vinde! Ó morte, onde está tua vitória?”
Pe. Raul, que morreu oferecendo suas dores pela nossa santificação, dizia, segundo Pe. Rinaldo: “Avise ao clero que tudo o que vou sofrer, sofrerei pela santificação e dores de todos, de cada irmão…” Que epifania e que doação a todos nós. Obrigado, Pe. Raul! Nossa gratidão, no Altar, é por ti, limitados que somos, mas reconhecendo um dom imerecido a nós: participar do sacerdócio de Cristo.
Ser padre sempre será um mistério; uma sequela que escandaliza o mundo com seu grito delirante de poder. Ser padre sempre será uma fenda de onde jorram rios de Água Viva, porque o Pai quis assim: “Vinde a Mim!”
Um último testemunho desse nosso irmão: o único bem que ele tinha deixou para a senhora que cuidava dele em sua pobre casa. Os santos são sempre irreverentes; gostam de escandalizar aqueles que se sentem grandes. Grandeza em Deus é reconhecer a sua fortaleza e a Ele se render, ao Seu Amor.
E numa oração de kénosis: “Sem Ti nada podemos, ó Jesus!”
Vale agradecer ao Pe. Rinaldo, pela sua via-sacra e seu ministério de Cirineu nesses últimos tempos. Vale agradecer ao Pe. Everson, pela acolhida e digna celebração eucarística. Vale agradecer a todo o clero, pelas ofertas silenciosas de cada um, em sua entrega e sufrágio pelo Pe. Raul.
Ele pediu para ser sepultado na matriz de São Francisco, em Macambira, como alguém que não tem onde reclinar a cabeça. Gratidão ao Pe. Luciano, que desde cedo prepara o jazigo para o nosso irmão descansar. Parece uma apologia ao velho vigário de mais de 62 anos de sacerdócio. Não! É Eucaristia, profunda ação de graças pela vida!
Termino citando Quintana, ao padre Raul, que também foi poeta:
“Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado, muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções. Não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições…
Se eu fosse um padre, eu citaria os poetas, rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma…
E um belo poema, ainda que de Deus se aparte, um belo poema sempre leva a Deus!” (Mário Quintana).
Em nome do Clero de Aracaju, gratidão, Pe. Raul! Descanse em paz!
Com estima,
Pe. Anderson Gomes