Uma série especial que resgata a história e a fé de Aracaju.
No centro histórico de Aracaju, ergue-se uma casa de fé, memória e identidade: a Catedral Metropolitana. Ao longo de décadas, ela acolheu gerações, testemunhou alegrias, lágrimas, celebrações e silêncios. Hoje, passando por um cuidadoso processo de restauração, somos chamados a olhar para além, a enxergar o que a Catedral representa no coração da cidade e na alma do povo.
A série “Catedral: Coração da Cidade, Alma do Povo” é um convite a revisitarmos nossa história e renovarmos nossa fé. Por meio de reportagens, entrevistas e registros fotográficos, a assessora de comunicação da Arquidiocese de Aracaju, Layla Kamila, acompanhará as etapas do restauro. Conheceremos os profissionais envolvidos e recordaremos fatos marcantes da vida dos fiéis que fizeram desta Catedral um verdadeiro lar.
Mais do que uma obra estrutural, esta é uma intervenção que toca o simbólico, o sagrado e o comunitário. Ao restaurarmos a Catedral, restauramos também parte de nós mesmos, pois este chão, que pisamos em oração, é parte do que somos.

Onde tudo começa: as bases que sustentam a beleza
“Pela arte, descobre-se a beleza de Deus.” (Papa Francisco, fev. 2022)
Construída em 1862 e inaugurada em 1875, a Catedral sempre foi mais do que um local de oração: ela é guardiã da história sergipana. Sua arquitetura, influenciada por tradições europeias, reflete a rica herança cultural de Aracaju, onde cada pedra e ornamento contam uma história. A restauração, portanto, é encarada não apenas como uma intervenção técnica, mas como um resgate da memória coletiva e da identidade do povo.
Antes de tocar os detalhes artísticos, a restauração da Catedral Metropolitana de Aracaju começou por onde ninguém vê: calhas, rufos, telhado e estuque. O invisível que protege o essencial.
O processo iniciou-se sob o ruído do vento entre as telhas e o caminhar cuidadoso dos trabalhadores sobre o alto da Catedral. Sob o céu de Aracaju, a obra começou de cima, protegendo o que está abaixo. Como quem ama, protege e prepara a casa para acolher aqueles que ama.
O início Toda grande construção exige um começo firme, e o restauro da Catedral não é diferente. As primeiras intervenções aconteceram na cobertura do templo, focando quatro elementos fundamentais: calhas, rufos, telhado e estuque. O objetivo é garantir a saúde estrutural e evitar infiltrações que comprometam paredes, pinturas murais, forros e elementos sacros.
“Cuidar da Catedral é um gesto de reverência à fé do povo sergipano e ao patrimônio da Igreja do Brasil. É uma missão que exige prudência, precisão e espírito pastoral.” — Dom Josafá Menezes, Arcebispo Metropolitano de Aracaju.
As calhas — canais que conduzem a água das chuvas — estavam comprometidas pelo tempo e foram refeitas. Os rufos, peças metálicas que vedam os encontros entre telhado e parede, também passaram por uma revisão completa. Muitas das telhas danificadas foram substituídas com técnica e cuidado. O estuque, herança da missão italiana, é um revestimento decorativo composto por madeiras nobres e argamassa; foi limpo, teve as peças danificadas substituídas, e recebeu reestruturação e imunização.
“Antes de restaurar o que é visível, precisamos proteger a estrutura. É como cuidar de um corpo: primeiro você fecha as feridas que ainda não se veem.” — Jeferson Souza, engenheiro executor da obra.

A primeira fase: proteger o que é sagrado De acordo com a arquiteta Marta Maria Silva Chagas, membro da Comissão Arquidiocesana de Arquitetura, Arte Sacra e Bens Culturais, a escolha de iniciar a obra pelo telhado foi estratégica: “A cobertura é o que protege todo o interior da Catedral. Se houver falhas ali, o risco de infiltrações e danos internos aumenta muito. Era fundamental começar por cima, antes de qualquer intervenção estética ou artística.”

“O restauro começa por aquilo que não é visível. Essa é a beleza silenciosa da conservação: proteger a memória da Igreja para as futuras gerações.” — Paula Raianne Santos, engenheira civil da Arquidiocese.
O engenheiro Jeferson Souza explica que essa etapa exige planejamento técnico detalhado e atenção à segurança: “Estamos lidando com uma estrutura antiga e nobre. Cada telha retirada, cada rufo instalado precisa ser feito com critério. A Catedral tem sua própria linguagem — não podemos impor nada a ela, precisamos dialogar com o que ela já é.”
Preciosidade incomum no Nordeste
Com um olhar atento às características singulares da edificação, o restaurador e historiador da arte Ricardo Moreira destaca a preciosidade do conjunto arquitetônico da Catedral:
“A Catedral é uma verdadeira joia cultural. Recordamos o nome Orestes Gatti, em suas aplicações artísticas no forro de estuque, herança da tradição italiana. É uma preciosidade incomum no Nordeste. Estamos trabalhando na recomposição do madeiramento para garantir não apenas a estética, mas também a longevidade da estrutura.”

Essa influência italiana, presente em elementos como estuques, ornatos e pinturas parietais, confere à Catedral um valor artístico raro. A combinação entre técnicas tradicionais e materiais duráveis reforça o compromisso com a autenticidade e a preservação do templo como bem cultural e espiritual.
Um gesto de amor comunitário
O restauro da Catedral está sendo conduzido sob coordenação e acompanhamento direto de Dom Josafá Menezes, que assumiu a missão de garantir a continuidade da obra com responsabilidade pastoral e administrativa. O arcebispo tem insistido na importância de comunicar cada etapa à comunidade, cultivando o sentido de pertencimento e corresponsabilidade.
“Restaurar a Catedral é restaurar também a alma da cidade. É um gesto de amor pela história, pela cultura e pela fé do nosso povo.” — Dom Josafá Menezes.
A expectativa da Comissão Arquidiocesana é que, nas próximas etapas, sejam iniciadas intervenções nos elementos internos — como forros, pinturas parietais e o órgão de coro — mantendo sempre o mesmo zelo e técnica que orientaram o início da obra.

Restaurando a Alma e a História
Esta série especial convida o leitor a conhecer os bastidores de uma obra que é, acima de tudo, um gesto de amor e respeito à história. Assim como as águas da chuva encontram seu caminho pelas calhas restauradas, nossa história é preservada, garantindo que o legado da Catedral continue iluminando o caminho das futuras gerações.
O trabalho é longo, mas o primeiro passo já foi dado. Do alto da Catedral, o futuro começa a ser preparado.
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Uma publicação compartilhada por Arquidiocese de Aracaju (@arquidiocesedearacaju)
Uma reportagem de Layla Kamila (DRT – 2916/SE) — Assessoria de Comunicação (ASCOM).