O sectarismo e a violência do mundo virtual e seu lado adoecido. É preciso discernimento e cuidado. Discernir é ir à raiz e ler aquilo que, em nós, está desintegrado, por meio de um caminho espiritual.
Santo Inácio de Loyola ensina, em seus exercícios, que devemos ler a vida de dois modos: caminhos de morte x caminhos de vida. O caminho da Vida, o único que não erra, é o de Jesus. O da morte é contrário à unicidade do que somos: uma pessoa humana, com uma natureza humana quebrada. E só meditando no Eu de Cristo e fazendo um bom exame de consciência é que vamos tomando parte no que somos.
Fazer exame de consciência não é focar apenas na queda moral. É perceber o quanto de intimidade com Deus estamos deixando de ter. E é nessa hora que “eus” adoecidos tomam conta de nós. Integrar vida e fé é caminho que humaniza. Toda imposição sobre nós se volta contra nós. O ciclo do abuso de consciência começa com o monopólio e a autoafirmação.
A lucidez é ajudar quem se desintegrou a fazer um caminho. E amadurecer espiritualmente é escolher um caminho e assumir a poeira que, na estrada, vamos enfrentar. A maior tentação que Jesus sofreu no deserto foi negar a sua Essência amorosa, virar as costas para o Pai, que sempre se derramou sobre Ele, amando.
Amar, na lógica da Trindade, é inerente à Pessoa Divina. Não é condição amar: é ser, é se derramar, é estar em comunhão profunda com a fonte do Amor: o Pai. E, mergulhando nesse íntimo de Amor, purificamos nossa povoação cheia de “eus” sem forma e equilíbrio.
Vi uma publicação há pouco sobre a temática da coleta de hoje da Campanha da Fraternidade, numa página dita cristã católica, orientando a colocar sementes nos envelopes da CF (Campanha da Fraternidade). O assustador não é a postagem — isso acontece. É a maldade do conteúdo. É a desintegração que isso provoca. Porque aqui se trata de perversidade. O perverso lê a vida a partir do seu eu ferido.
Um adulto que não amadureceu não tem forma. Ele elimina pessoas e ideias pelo lado mais letal que há: a mentira!
Canto São João da Cruz para entrar na Semana Santa com tom espiritual: “Já não tenho outro ofício, só amar; o exercício: solidão povoada, presença amorosa do Amado. Viver ou morrer, sem Ele eu não quero ser.”
Pe. Anderson Gomes, pároco da Paróquia São Pedro Pescador (Bairro Industrial, Aracaju) e representante do Clero.