Um latino-americano que soube dançar tango como ninguém, fez doutorado na Alemanha, jesuíta de coração franciscano. Em Aparecida, em 2007, trabalhou como ninguém e, com a aprovação de Bento XVI, arrematou um texto programático para a vida pastoral do catolicismo romano. Em 2013, chegou à cátedra de Pedro, curvou-se ao povo que se reunia na sacada da basílica e pediu orações. Estávamos nós, em 2013, na JMJ, numa multidão sem precedentes.
Homem altivo, sensível e firme, que, ao passar entre nós, arrancou lágrimas. Cuidou e protegeu as pessoas vulneráveis. Nas três vezes em que estive próximo dele em Roma, fiquei sem reação. A força espiritual de Francisco é imensa. Lembro que, em 2019, quando desci em Assis, na Itália, voltei no tempo. E nos 800 anos da composição do “Cântico das Criaturas”, a Mãe Terra receberá um dos maiores papas da história da Igreja, não apenas por questão de simpatia, mas porque ele fez um prognóstico memorável em seus documentos sobre a história do mundo.
Ele começou sua jornada falando da Alegria do Evangelho e, tudo indica, terminou falando do Amor do Coração de Jesus de forma esplendorosa, citando, diga-se, Han. Intercalou seu magistério abordando as questões do meio ambiente e sinalizou para o caos ecológico em voga. Denunciou o capitalismo voraz, “filho” do pensamento neoliberal, que faz sucumbir as forças humanas em nome da técnica e do lucro. Afinal, estamos perecendo, mas ele disse: sejam peregrinos de esperança, fruto de uma fé madura que une e dialoga.
Certamente, Francisco concluiu sua jornada. Não estamos entendendo muita coisa deste momento num catolicismo entrevado entre pitadas de vazio e fé fast-food, sem tocar na vida concreta das pessoas. Francisco soube dialogar com diplomatas e poderosos do mundo e conjugou sua sapiência ao acolher os vulneráveis na Sala Paulo VI, em Roma, propondo uma reforma séria nos setores do catolicismo romano – tanto no tocante à vida pastoral quanto às estruturas eclesiais.
Como um profeta quase trovador, disse não à corrupção do bem, não à manipulação das consciências e dos vulneráveis, e sim à vida – à vida que toca o chão – e à defesa da vida concreta, não retórica. Afinal, o Evangelho não é uma abstração; é concreto. É plenitude.
Sinto na alma que o Papa Francisco já começou seu calvário. Ele já entrou em seu tríduo pascal, e aquele que o chamou o acolherá. Neste Ano Santo, vamos plantar no chão da história, com a fé que a Igreja ensina, um dos maiores papas da história. Talvez não entendamos agora. Caminhemos e recordemos que foi por misericórdia que fomos eleitos, fazendo jus ao lema do Papa Francisco e lembrando São Beda ao comentar o chamado de Mateus por Jesus.
Francisco, te amamos; suas lágrimas e seu corpo fazem falta. Faz três semanas que não o vemos concretamente, mas sentimos que sua vida está no mundo, bem aqui dentro de nós.
Força, meu Santo Padre! Força! Sua peregrinação nos enche de esperança; cremos no Filho de Deus, que é o sentido da sua vida. É isso: entregamos sua vida a Maria, nossa Mãe do Céu. Peço sua bênção, querido Papa, querido Pai.
Pe. Anderson Gomes, pároco da Paróquia São Pedro Pescador (Bairro Industrial, Aracaju) e representante do Clero.
(foto capa: vatican news)