por padre Roberto Benvindo,
pároco da paróquia Nossa Senhora de Lourdes (bairro Siqueira Campos, Aracaju)

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos (Mc 3,20-35).
— Glória a vós, Senhor.

— “No Senhor ponho a minha esperança. Espero em sua palavra. A minha alma espera no Senhor mais que o vigia pela aurora. Espere Israel pelo Senhor mais que o vigia pela aurora. Pois no Senhor se encontra toda a graça e copiosa redenção. Ele vem libertar Israel de toda a sua culpa.” (Sl 129)

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Meus queridos irmãos e irmãs, não há nada mais triste do que uma pessoa dividida dentro de si, do que uma pessoa desencontrada. E eu não estou falando apenas no aspecto psicológico, mas também no aspecto espiritual. A pessoa dividida torna-se uma marionete nas mãos do mundo, nas mãos das próprias paixões, e até nas mãos do próprio demônio. Por isso, neste décimo domingo do tempo comum, o Senhor Jesus nos dá a luz, nos dá sabedoria para que possamos vencer qualquer divisão interior do nosso coração. Porque o coração dividido é uma pessoa dividida.

Então, em primeiro lugar, vamos meditar e aprofundar na palavra de Deus. Abra seu coração para acolher o ensinamento de Jesus.

O coração dividido. Por que o coração dividido espiritualmente falando? Porque não compreende a palavra de Jesus. Marcos capítulo três, versículos vinte a vinte e um, diz que Jesus voltou para casa com seus discípulos. Aqui, a casa é Cafarnaum. Depois que Jesus se batizou no Rio Jordão, ele não volta mais para Nazaré para habitar, ele vai uma vez ou outra e faz poucos milagres. Jesus mora na casa de Pedro, em Cafarnaum. E, de novo, diz o texto bíblico, se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo porque diziam que ele estava fora de si.

Então, os parentes de Jesus, alguns escritores nos ensinam que eram os mais próximos de São Tiago, desceram de Nazaré ou simplesmente visitaram a região da Galileia para ver Jesus. Eles foram atrás de Jesus porque intuíram que ele talvez estivesse fora de si, estivesse “enlouquecido”. A pessoa que não compreende a palavra de Jesus, a vida de Jesus, o modo de pensar e agir de Jesus, ou as pessoas que querem viver a palavra de Jesus como ela é, quem tem um coração dividido, começa a pensar que é um exagero, que a pessoa está fora de si, que a pessoa enlouqueceu, etc. Por exemplo, a radicalidade do evangelho: alguém que consagra a vida inteira no sacerdócio ministerial, alguém que entra num mosteiro, num convento, numa comunidade de vida, ou uma família inteira que se consagra ao Senhor. Os de fora começam a dizer que devem estar loucos ou que não entendem as coisas. Na verdade, a pessoa não compreende a palavra de Jesus.

Na sua família, isso também aconteceu. Um outro efeito daquelas pessoas que têm um coração dividido é atribuir as coisas de Deus, ou as ações divinas, às superstições ou até mesmo ao demônio. Versículo vinte e dois: “Os mestres da lei que tinham vindo de Jerusalém diziam que ele estava possuído por Belzebu e que pelo príncipe dos demônios ele expulsa os demônios.”

Aqui, algo muito interessante. Jesus está na casa. Interessante essa expressão. Na casa de Pedro. E ali, na casa de Pedro, nessa multidão, também estavam os mestres da lei. Além dos familiares que pensavam que ele estava fora de si, os mestres da lei cometiam uma blasfêmia. Daqui a pouco aprofundaremos nisso, cometendo uma blasfêmia, dizendo que ele estava possuído por Belzebu. Por que dizem assim? Porque Baal-Zebu é o nome de uma divindade síria. Curiosamente, traduz-se como “Senhor da casa” ou “Senhor do templo”. Lembremos que Jesus falou que o tempo foi encurtado: “Convertei-vos”. E Jesus está na casa para implantar a casa do Pai, que é o reino. Então, eles acusam-no, e depois a chamada de Bel. O “Bel” é homem. Então Bel-Zebu, Zebu, mosca. Chamado de “Deus também das moscas” por causa da imundice e do sangue dos imolados e dos ritos imundos. Era chamado de príncipe dos demônios. Que acusação terrível fazem a Jesus.

O Senhor é o senhor da casa, o senhor do templo, e Ele é o verdadeiro templo. Aqui, Ele é acusado, caluniado, ironizado, dizendo que expulsa demônios ou que está possuído por Belzebu, pela divindade pagã da casa, do tempo, ou das moscas, pelo príncipe dos demônios. Então, meus irmãos, a pessoa que não tem um coração em Deus, que não tem um coração concentrado em Jesus, começa a atribuir até mesmo as obras divinas às obras do mundo, às obras malignas, acreditando que a pessoa está sedenta de poder ou de curiosidade, que possui outros interesses. Aqui está o princípio da bruxaria. Eles acusam Jesus de estar possuído por Belzebu, atribuindo o poder de Deus ao demônio. É próprio do coração dividido, é próprio do coração que ainda não fez uma experiência profunda com Deus. E o que de fato divide o coração?

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