Dentre as poucas certezas que temos, sabemos que a morte faz parte da vida. Trata-se de uma experiência indizível, ou seja, não podemos vivenciar a morte do outro. Comumente, usamos a expressão defunto quando nos referimos a alguém que já não está no meio de nós. Tal expressão pode ser entendida como finitude, cessação da presença física das pessoas que iluminaram a bela caminhada da nossa vida.
O ethos do cristianismo, isto é, o conjunto de comportamentos que derivam da fé cristã, cria em nós uma postura perene de oração, que se concretiza em todas as circunstâncias, como busca de comunhão com o Deus da Vida. Desta forma, o hábito de rezar pelos defuntos na liturgia da Santa Missa remete ao primeiro milênio do cristianismo, cultivado nos mosteiros pelos monges, faróis da luz da Ressurreição.
Contudo, no Evangelho, encontramos o próprio Jesus rezando pelos defuntos. Lembramos do momento bíblico no qual Jesus participa do luto de Marta e de Maria, as irmãs de Lázaro. O Evangelho revela que a sensibilidade é divina, pois a narração de São João afirma: “E Jesus chorou”. O pranto de Jesus significa que Ele tomou sobre si as nossas dores. Ele carrega os nossos fardos e olha para nós com misericórdia (João 11, 1-57).
Em seguida, Jesus se coloca em oração diante do Pai Eterno com uma postura de louvor, mostrando-nos a importância da gratidão a Deus por cada pessoa que caminhou ao nosso lado, pelos ensinamentos e aprendizados, pela transmissão dos valores humanos, e sobretudo, pela transmissão da fé na Ressurreição que compartilharemos nos céus com Maria, os anjos, os santos e todos os nossos irmãos e irmãs.
O trecho do Evangelho segundo João nos convida a ouvir a voz suave e incisiva de Jesus, que diz: “Lázaro, vem para fora!”. Jesus faz o mesmo convite aos nossos entes queridos que já partiram para que deixem as correntes da morte e entrem na Casa da Vida que é o Reino do Céu. O convite de Jesus é irresistível, de tal maneira que as feridas foram curadas, as lágrimas foram enxugadas. E agora festejam com Jesus.
Os nossos queridos que já partiram não estão por aí perambulando, nem estão desabrigados. Jesus declara no Evangelho de São João: “Na Casa de meu Pai há muitas moradas”. Portanto, sabemos que estão na Casa do Pai em constante adoração e ação de graças. No mistério de comunhão da Vida, os nossos queridos estão felizes por rezarem por nós diante de Jesus e por receberem todos os dias, o tesouro precioso das nossas orações com o sabor fraterno de tudo o que vivenciamos aqui na Terra (João 14, 1-31).
Pe. João Claudio é pároco da paróquia Santa Teresinha (Bairro Robalo, Aracaju).