Uma das atividades que mais definem a experiência humana está contida no verbo “cuidar”. O ser humano reencontra-se enquanto está cuidando do outro, de si mesmo e das coisas do Pai misericordioso, como atesta a resposta de Jesus aos seus pais enquanto estava no templo com os doutores da lei, partilhando a beleza da Palavra Sagrada (Lucas 2,49).
A obra da criação encontra-se perfeitamente inserida no rol das coisas do Pai Celeste, pois é a expressão amorosa do Seu cuidado para com todos os seus filhos e filhas. O início do Livro do Gênesis revela os contornos dessa ação de Deus, que providencia tudo por meio da Sua criação. No primeiro capítulo do referido texto bíblico, o autor sagrado declara: “Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era muito bom” (Gênesis 1,31).
Compreende-se que a criação é a nossa casa, o lar construído por Deus para abrigar cada pessoa humana. Cuidar deste lar é uma tarefa primordial que não podemos negligenciar. O cuidado com a criação implica a mobilização de todos, sem qualquer distinção. Os homens, as mulheres, as crianças e os setores públicos e privados devem cuidar do meio ambiente.
As expressões religiosas não podem ficar de fora deste imprescindível circuito protetivo. Os povos indígenas, por meio de suas lutas, transmitem um profundo carinho pela criação, chegando a abraçá-la e chamá-la de Mãe Terra: fecunda, acolhedora, doadora dos frutos sem os quais não conceberíamos a caminhada transformadora da existência humana. Com seus cantos e danças, os irmãos de matrizes religiosas afro-brasileiras propiciam um espaço para a necessária mobilização em prol do cuidado com a bela obra da criação.
Desde o início do pontificado do Papa Francisco, e precisamente através da Carta Encíclica Laudato si’ (Louvado sejas), publicada em maio de 2015, o cristianismo católico contemporâneo fixa o olhar na vida de outro jovem Francisco, que provocou uma verdadeira revolução na Europa do seu tempo, em pleno século XIII, exatamente por ter conjugado com a própria vida o verbo “cuidar”, aproximando-se como um bom irmão das pessoas enfermas e da natureza.
Sentir-se irmão da natureza deriva do fato de nos enxergarmos como membros da mesma família humana, provenientes de Deus, pois d’Ele viemos e para Ele retornaremos. O apóstolo Paulo recorda isso ao dizer: “n’Ele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17,28). O fato de sermos todos irmãos deve inspirar gestos concretos de cuidado com toda a criação.
Os pequenos gestos concretos que podemos realizar são capazes de promover as grandes mudanças que esperamos, tanto na esfera local quanto na global. Cuidar do pedaço de mundo no qual estamos inseridos gera benefícios partilhados com todo o universo.
As práticas sustentáveis são indispensáveis para que o sonho da preservação se torne uma realidade. A casa comum construída por Deus, também denominada meio ambiente, é o espaço vital das realizações humanas. Preservá-lo significa cuidar bem de nós mesmos.
O descarte incorreto dos objetos é responsável por grande parte da depredação do meio ambiente. No caso do alumínio, a decomposição ocorre apenas muito tempo após ultrapassados 200 anos. A reciclagem é uma prática sustentável que está facilmente ao alcance das pessoas.
Criar equilíbrio entre a exploração de recursos naturais e a produção de novos produtos, evitar o desmatamento e a contaminação das águas são algumas das metas buscadas pela prática sustentável. A sustentabilidade é um desafio contemporâneo por meio do qual é possível superar o hiato entre fé e obra, como declara São Tiago: “Mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2,18).
Uma cultura sustentável encontra largo amparo nas raízes mais genuínas do cristianismo. Ampliá-la através de ações coordenadas evidenciará a presença de paróquias sustentáveis, auxiliadas pelas pastorais sociais e pelos leigos e leigas que integram as redes paroquiais.
Dessa maneira, vamos começar a preservar o meio ambiente agora. Ao coletar alumínio, ou seja, as latinhas que conservam os produtos que consumimos, colaboraremos com a redução da exploração desmedida da bauxita, que agride fortemente o meio ambiente sergipano.
O domingo sustentável é um dia para cuidarmos da criação, celebrando a vida iluminada pela luz da Ressurreição de Jesus. Assim, as paróquias sustentáveis, com a cooperação das pastorais sociais e o envolvimento da família paroquial, poderão ajudar realizando a coleta das latinhas em seus espaços pastorais.
Por conseguinte, em sintonia com a Caritas Arquidiocesana, as pastorais sociais abraçam o domingo sustentável como um gesto concreto em prol da preservação do meio ambiente e da manutenção das várias atividades realizadas com os nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis. Vamos começar?
Pe. João Claudio é pároco da Paróquia Santa Teresinha (Bairro Robalo) e assistente eclesiástico das Pastorais Sociais.