Quando lemos o início da Profecia de Jeremias, temos a promessa do Senhor Deus: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentar com ciência e com inteligência” (Jr 3,15). É bem verdade que todo o prometido somente encontrará em Cristo a sua realização, não sendo diferente com o anseio de Deus de enviar ao Seu povo alguém que cuide, vele e proteja o Seu único rebanho, cuja figura é o povo judeu.
O único rebanho de Cristo, a Igreja Católica, conta com a assistência de seu único Pastor: “Eu Sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10,14), que nos conhece e Se deixa conhecer. Não ocultando de nós a Sua face misericordiosa, nos ama e, amando-nos, nos salva porque dá, por nós e para nós, a Sua própria vida.
Porém, na Sua providência, o Senhor Jesus quer precisar de homens, que, imbuídos do Seu Espírito, apascentam, n’Ele, o rebanho. Deus designa pastores no Único Pastor, Jesus Cristo. Não por uma associação alheia aos sentimentos divinos; mas, com disposições, dons e carismas típicos do próprio Deus, concedidos ao coração daqueles a quem Ele chama. Daí é que Jeremias, trazendo a promessa de Deus, vai dizer que os pastores concedidos ao rebanho serão conformes ao coração divino, modelados pelo amor de Deus. E, ao lado do amor, apascentarão na ciência e inteligência, dons do Espírito Santo que os consagra para o divino ofício.
Na Primeira Leitura, o mesmo Jeremias é porta-voz de Deus para transmitir aos maus pastores a paga de seus delitos: “Vós dispersastes o meu rebanho, e o afugentastes e não cuidastes dele; eis que irei verificar isso entre vós e castigar a malícia de vossas ações, diz o Senhor” (Jr 23,2). Se o Senhor promete às ovelhas, também faz juras aos maus pastores: é a Sua justiça. Aquelas, consolação; para estes a retribuição da injustiça.
Pastores também são passíveis a desvirtuamentos porque também são ovelhas do Único e Verdadeiro Pastor, Jesus Cristo. Na Carta aos Hebreus, lemos, em relação aos sacerdotes, que, em Cristo são pastores, que, mesmo se compadecendo com a compaixão típica da misericórdia de Deus, estão, eles mesmos rodeados de fraquezas (cf. Hb 5,2). Infelizmente, por nossas fraquezas, se não estivermos unidos, intimamente, a Cristo Pastor, poderemos soçobrar, causando prejuízo às nossas próprias almas e escândalo às ovelhas. Infelizmente!
Os pastores podem se abater porque não são “super-heróis”, mas servos e ovelhas. No Evangelho de hoje, temos o retorno dos Apóstolos após a realização da atividade missionária para a qual foram enviados, levando as palavras, os gestos, enfim, a própria pessoa de Cristo, que os enviou, tal como refletimos no domingo passado. O Senhor percebia o misto de entusiasmo e cansaço que invadia o coração dos Apóstolos, que Lhe contavam os feitos e os ensinamentos propagados. O Senhor os ouve, e, sabendo das limitações de sua humanidade, convida-os aos descanso. Os pastores não são de “ferro”; a missão não é fácil, é exigente. Diante das ovelhas carecidas dos bens do Alto, Cristo leva os Seus colaboradores para um lugar deserto e afastado; leva-os para o descanso necessário. E o povo, que nunca se dá por satisfeito porque grande é o desejo que tem de Deus, arranca os Apóstolos, os seus Pastores, do desejado descanso. Porém, aquela situação que poderia inspirar aos Apóstolos o desapontamento e a raiva, é aproveitada pelo próprio Jesus como ocasião de ensinamento, silencioso na fala, e profundo para os Apóstolos e seus sucessores, pastores de todos os tempos, pelo exemplo: “Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34).
Santo Agostinho, Bispo e, portanto, pastor, escrevendo aos seus padres, exortando-os ao serviço pastoral, dirá: “Não procuramos nossa glória nem a devemos buscar, mas a salvação deles [dos fiéis a nós confiados], de modo que não se extraviem aqueles que nos seguem, se andarmos bem. Sejam nossos imitadores, se o formos de Cristo. Se não formos imitadores de Cristo, que ele o sejam!” (Sermo de ovibus,12).
Não é fácil ser pastor. Confiamo-nos à fidelidade de Cristo, que não nos abandona, fortalecendo-nos. Acompanhem, pois, na oração e no carinho, as ovelhas aos pastores, porque estes muito renunciam para, zelosamente, cuidar do que é de Deus, o Seu povo e rebanho.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).