A Quaresma é tempo abundante da graça divina para ouvir a voz de Jesus chamando-nos à conversão. Durante a celebração da Missa na Quarta-feira de Cinzas, Jesus disse através de cada sacerdote: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” Dessa forma, a Quaresma é tempo de acreditar com mais intensidade na força transformadora da Palavra redentora.
A centralidade da oração é uma das grandes práticas que caracterizam todo o tempo quaresmal. Ao longo da sua missão com os discípulos, Jesus sempre reservou tempo para a oração, para o diálogo filial, face a face, com o Pai Misericordioso. Quando está no deserto enfrentando as tentações, Jesus recorda que: “Não só de pão vive a pessoa humana” (Lucas 4,4). Assim, Jesus mostra que a oração é o alimento indispensável para todo coração humano. A ausência da oração vai nos desnutrindo. Sem a oração, todos somos prisioneiros.
O modelo de oração dado por Jesus em seu Santo Evangelho reúne dois elementos inseparáveis: escuta e ação. Quem age sem ouvir não age bem. Quem escuta sem agir não acolhe verdadeiramente a Palavra, como recorda a Parábola do Semeador (Mc. 4,14 ss.).
As orações de Jesus são marcadas por ações muito fortes e sempre contestadas, até por pessoas religiosas. Vejamos alguns exemplos: a. Jesus repreende os discípulos que querem impedi-lo de ter acesso às crianças (Mateus 19,14); b. Jesus defende a mulher que estava prestes a ser apedrejada (João 8,7); c. Jesus cura os 10 leprosos (Lucas 17,12 ss.); d. Jesus se identifica com os famintos, os despidos e encarcerados (Mateus 25, 34 ss.).
Desde o momento da encarnação até o seu último suspiro humano, Jesus viveu como alguém vulnerável em meio aos vulneráveis. O Emanuel, Deus-Conosco, nasceu em uma gruta, pois não foi acolhido nas hospedarias de sua época (Lucas 2,7). Ainda criança, experimentou as durezas derivadas das perseguições socioeconômicas e do fato de ser estrangeiro no Egito (Mat. 2,13-16). O Filho de Deus, Criador do Céu e da Terra, trabalhou como carpinteiro e aprendeu o que significa viver do próprio suor (Marcos 6,3). Aquele que é a Fonte Inesgotável de santidade, foi condenado em um processo injusto, repleto de informações falsas e arbitrariedades (Mateus 27,23).
Descortina-se assim, alguns aspectos fundamentais da espiritualidade das pastorais sociais. Alimentadas pelo poder da oração, as pastorais sociais são fortalecidas pela graça divina e perpetuam as ações de Jesus, incluindo os excluídos, curando feridos, carregando sobre os ombros as pessoas vulneráveis da sociedade atual, seguindo o Evangelho do Sumo Bom Pastor e sob a intercessão de Maria, Mãe e Divina Pastora.
Pe. João Claudio (Assistente Eclesiástico das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Aracaju)