Foi durante as visitas aos pobres daqueles bairros de Aracaju, que a jovem Bebé, em sintonia pastoral com o pároco da região, o padre salesiano Aníbal Lazzari, foi convidada por ele a ser catequista das meninas e a participar da família Salesiana: “Movidas pelo desejo de preencher essa lacuna e inspiradas pelos conselhos do Pe. Aníbal, algumas senhoras pertencentes à Associação das Damas da Caridade começaram em agosto de 1914, a reunir, nos domingos e dias santificados, meninas para ensinar-lhes o catecismo.
“A vida de Genésia Fontes (Dona Bebé) foi um dos mais altos exemplos de Caridade Cristã, manifestada em ações constantes no nosso meio. Ela foi uma apóstola das crianças pobres às quais consagrou todas as suas horas, mas também o seu testemunho falou aos espíritos de inumeráveis pessoas jovens e adultas em todas as camadas de nossa sociedade. É, pois, de um grande significado que a sua figura de criatura, rica de bondade e amor cristão, de fé e esperança, de vida sobrenatural e de humildade, seja transmitida às novas gerações que vão surgindo e rememorada a quantos viverem seu tempo. Dona Bebé precisa ter muitos imitadores de sua vida, como ela procurou ser imitadora de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor.” (Dom José Vicente Távora, 1º Arcebispo de Aracaju, 25 de julho de 1966).
O Oratório Festivo São João Bosco no período de 1914 a 1952 foi dirigido pela benemérita e cooperadora salesiana Genésia Fontes, que seguiu os padrões educativos da Congregação Salesiana. A instituição, orfanato para meninas abandonadas, de cunho confessional, católico e filantrópico foi criada a 16 de agosto de 1914, em homenagem a Dom Bosco, seu protetor. Conforme os Estatutos, adotou “as divinas lições de Dom Bosco” e seu “modelo educativo” – o chamado Sistema Preventivo de Dom Bosco.
O Oratório de Bebé – assim popularmente conhecido foi tema de dissertação de Mestrado, de Nadja Santos Bonifácio, pela Universidade Federal de Sergipe – “Acolher, instruir e educar: contribuição do Oratório Festivo São João Bosco para a educação feminina em Aracaju (1914-1952)”.
FINALIDADE DA INSTITUIÇÃO
O objetivo inicial da obra era promover a catequização de meninas pobres, acompanhando o modelo dos Oratórios Festivos, no sentido de afastá-las dos vícios deturpadores e da ociosidade. Vale ressaltar que a implantação de um Oratório Festivo nos moldes de Dom Bosco consistia em congregar aos domingos e dias festivos “crianças e jovens pobres”.
No período a filantropia fundamentava-se na razão científica e visou “preparar a criança pobre e a abandonada para o mundo do trabalho, (após os 18 anos) buscando também valorizar a família para prevenir a ociosidade, a prostituição, à mendicância, o crime, o abandono do menor, a criança na rua”. Considera-se o termo “oratório festivo” não somente como espaço de evangelização e socialização, mas também, como uma prática – a prática oratoriana – que se desenvolve através de ações pedagógicas, tais como, jogos e brincadeiras, teatros, cantos, aprendizado religioso e moral.
NOVA ADMINISTRAÇÃO
Genésia Fontes, a Mãezinha ou Dona Bebé, avançando em idade, desejava entregar a sua Instituição a uma Congregação Religiosa. Tarefa que ela confiou a Dom Fernando Gomes, Bispo da época. Algumas congregações se apresentaram, mas não aceitaram a incumbência de dar continuidade à Obra iniciada por Dona Bebé. Em 1952, vindas da Itália, as Irmãs Ministras dos Enfermos de São Camilo (Camilianas), a fim de assumir a missão junto a um Asilo de Idosos, em Estância, dirigiram-se a Dom Fernando para pedir autorização de abertura do noviciado, para a formação de novas Irmãs, foram por ele, desviadas do seu percurso. Aceitaram a proposta e receberam a doação da Propriedade e a Missão das mãos de Dona Bebé, que conviveu com as Irmãs, ainda por 8 anos (1952 – 1960) atuando juntas com intenso ardor apostólico, amor, ternura e carinho para as crianças órfãs, as semi-internas e as meninas externas (ao todo 400 meninas).
Madre Maria Domingas Brun Barbantini – Fundadora das Irmãs Ministras dos Enfermos de São Camilo – Camilianas
UMA VIDA DOADA PELAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Dia 14 de setembro de 1960, Dona Bebé foi ao centro da cidade para atendimento de saúde e depois dirigia-se ao comércio para comprar roupinhas para uma boneca muito especial que havia ganhado de presente, no Rio de Janeiro e que ela preparava a cada ano, para as brincadeiras com as suas meninas por ocasião do seu aniversário. A boneca Vanda (dando corda) caminhava, movia os braços- – para aquela época era algo muito especial. Mas de repente, na rua João Pessoa (hoje calçadão) um Jeep dirigido por um adolescente aprendiz de direção, perdeu o controle do carro, subindo a calçada. Arremessou Ir. Roberta Lajolo para longe gerando várias fraturas; e prensou a Mãezinha Bebé contra a parede das lojas Rochedo, provocando hemorragia interna. A uma semana do seu aniversário, ela voltou para os braços do Pai Celeste. Comoção e luto para toda cidade de Aracaju que parou, fechou o comércio geral.
Genésia Fontes (Dona Bebé)
A MISSÃO CONTINUA
As Irmãs Ministras dos Enfermos continuaram a missão de Dona Bebé mantendo o orfanato (65 meninas que permaneciam até os 18 anos de idade), semi-internato (150 meninas que passavam o dia) e externado de meninas. Entre todas totalizando o atendimento a 400 meninas-dia, organizadas em dois turnos, mantendo a escola, a catequese (aos domingos) e a parte recreativa com filmes, apresentações artísticas, coroação de Nossa Senhora, Primeira Eucaristia, muito preparadas pela grande Mãe Irmã Arlinda Roberto dos Santos e outras catequistas e Irmãs.
MODALIDADES DE ASSISTÊNCIA
Com o passar do tempo, o Oratório foi se adequando às políticas sociais e mudou a modalidade de atendimento e assistência. Por um período acolheu meninas e adolescentes de rua. Um grande desafio. Surgindo as Casas Lar na cidade, onde irmãos e irmãs podem ser acolhidos no mesmo espaço, subsidiado pela Prefeitura Municipal. O Oratório optou pela modalidade de assistência social, acolhendo meninos e meninas do primeiro ao quinto ano. Proporciona atividades pedagógicas e socias, lanche saudável, atendimento odontológico, psicólogo, uma dezena de projetos e oficinas que desenvolvem talentos que poderão se tornar mais tarde uma fonte geradora de renda. Investe muito em formação de valores, de cidadania, talentos e mantem o tripé de educação de Dom Bosco: educação, formação cristã e atividades lúdico-recreativas.
SUSTENTABILIDADE
O Oratório de Bebé, desde o seu nascimento, vive de doações. Um meio de sustentabilidade são os eventos sociais beneficentes, com a participação da nossa Comissão de Eventos (leigos voluntários). Participamos com projeto do Edital do Fundo Municipal da Criança e Adolescente, quando aprovado recebemos recurso para as oficinas e atividades.
Há Pessoas físicas, paróquias, grupos, movimentos, Mesa Brasil SESC que têm, periodicamente, colaborado com doações de alimentos, material de limpeza, material de higiene. Porém o maior desafio, quando se trata da manutenção da estrutura, restauração, reformas, pintura, substituição de janelas, equipamentos, horta, jardinagem, quintais, implantar a energia solar, câmara fria. Motivo de agradecimento a colaboração de tantas pessoas que amam o Oratório de Bebé e outras que ainda poderão nos ajudar, como sócio colaborar.
SOMANDO ANOS DE EXISTÊNCIA
Neste ano, 16 de agosto, o Oratório completa 110 anos de existência, de fundação. Deus tem garantido a continuidade da missão. Muita oração, fé e esperança. A Comunidade das Irmãs Camilianas e a Comissão de Eventos (leigos e leigas amigos do Oratório) programou alguns eventos beneficentes para celebrar esta data e ajudar na manutenção da Obra. Esta Comissão é permanente e tem se dedicado com eficiência e eficácia em promover eventos para a sustentabilidade e promoção da Instituição.
HOMENAGEM ESPECIAL
À Maria Iraci dos Santos – nossa Maraci – que por 91 anos residiu no Oratório de Bebé, tendo chegado com 7 anos de idade, filha do Oratório, criada por Dona Bebé, à medida em que crescia e se desenvolvia foi ajudando a cuidar das crianças, adolescentes, jovens. Ela era o anjo da casa que ajudava em todos os lugares e circunstâncias. Exemplar na vivencia cristã, cheia de qualidades e virtudes, em especial a responsabilidade, a oração, o silêncio e uma grande devoção à Nossa Senhora Auxiliadora e a Dom Bosco! Do céu continua sua presença entre nós!
GRATIDÃO É A VOZ DO CORAÇÃO
As Irmãs Ministras dos Enfermos de São Camilo – Camilianas – recebem graças e bênçãos de sua Fundadora a Beata Maria Domingas Brun Barbantini, seus Padroeiros São Camilo de Lellis e Nossa Senhora das Dores.
Hoje Integram a Comunidade presente no Oratório de Bebé, neste ano de celebração dos 110 anos de existência, Ir. Arlinda Roberto dos Santos (com cuidados de saúde), Ir. Gema Santos Silva, Ir. Bernardete Vasco Pereira, Ir. Maria Cardoso Macedo, Ir. Rosa Maria Marques, Ir. Margarida Vidal do Nascimento, Ir. Maria Salete de Resende, Ir. Beatriz De Marco, Ir. Adiles Teresinha Schäfer, Ir. Geni Gema Bedin, Ir. Fátima Aparecida Vieira Santos, Ir. Maria Bernadete Rodrigues, Ir. Maria Alves, sob a Direção de Ir. Marisa Inêz Mosena; agradecem todo apoio, colaboração e amizade. Acolhem, com o coração agradecido toda forma de ajuda, toda parceria possível que as pessoas sensibilizadas por esta Missão humano-divina, podem dispor para fidelizar e honrar a memória de Dona Bebé – Genésia Fontes (de Riachão do Dantas).
Que a soberana Rainha N. Sra. Auxiliadora proteja a todos e nosso Pai Celeste abençoem a todos e todas. Gratidão imensa a todos que fizeram e fazem parte desta memorável historia de vida – 110 anos de doação, educação, formação e promoção da vida das crianças e adolescentes para um tempo novo da nossa sociedade. Tudo seja para a maior gloria de Deus!
Ir. Marisa Inêz Mosena, diretora do Oratório de Bebé.