“[…] o Senhor Jesus, Rei da glória, vencedor do pecado e da morte, ante os Anjos maravilhados, subiu hoje ao mais alto dos céus, constituído Mediador entre Deus e a humanidade, Juiz do mundo e Senhor do universo” (Prefácio da Ascensão do Senhor, I). é o que rezaremos ao Pai no Prefácio da Santa Missa, pois, hoje, Cristo Ressuscitado sobe aos céus, recebe todo o poder e senta-Se à destra do Pai.
Tendo o corpo glorificado desde a manhã pascal, Jesus permanece quarenta dias com os discípulos. Com Seu corpo glorioso, o Senhor não é um espectro, uma assombração, mas portador de uma matéria com propriedades novas e sobrenaturais. Permanece quarenta dias com os Seus discípulos para instruí-los sobre o Reino. Vemos, nos discípulos, a Igreja nascente que recebe do seu Senhor e Esposo a doutrina que deverá fielmente guardar e com solicitude anunciar.
Somente já dadas as últimas instruções àqueles que iriam continuar a obra do Reino e prometendo-lhes o Espírito Paráclito (cf. At 1,8), é que Jesus sobe aos céus, manifestando a glória recebida desde a Ressurreição, até então velada sob os traços de uma humanidade comum, embora com um corpo dotado de propriedades novas e sobrenaturais (cf. CIC 660). Com a Ascensão, Jesus não Se retira, mas o poder de Deus, o Seu próprio poder (por isso ser ascensão e não assunção) O introduz na habitação divinal.
Na Profissão de Fé, a Igreja proclama: “E subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai”. Ao tomar posse do lugar que é Seu, Cristo Senhor inaugura o Reino, concretiza o que Daniel já profetizara: “A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído” (Dn 7,14); ou o que o Anjo aludira a Maria, Sua Mãe: “O Seu Reino não terá fim” (Lc 1,33), frase que também professamos no Credo Niceno-Constantinopolitano, quando dizemos que o Seu Reino não terá fim.
Cristo, ao assentar-Se à destra do Pai, exerce também o Seu múnus sacerdotal: Ele é o Sumo e Eterno Sacerdote da Nova e Eterna Aliança. Por Ele, os louvores e súplicas da Igreja sobem ao Pai. É a partir da Sua cruz, do único evento da Sua Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céu que este sacerdócio do Senhor Jesus se manifesta. Jesus, glorioso à direita do Pai, é o centro para onde convergem e rumam os homens, o tempo e a criação, ainda que por caminhos desconhecidos e inimagináveis à nossa limitada razão (cf. Jo 12,32; Ef 1,10). Jesus, à direita do Pai, exerce um papel único: o de ser mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2,5-6). É do Seu trono celeste que o Cordeiro Imaculado cumpre esta função só Sua.
Se Jesus, mesmo sendo Deus, numa relação íntima de obediência ao Pai, encarna-Se, assumindo a nossa humanidade, num intercâmbio entre o céu e a terra, com a Sua Ascensão, não nos abandona, mas abre-nos à certeza de que, por Ele, obteremos a morada celeste, ainda que, continuamente, estará sempre conosco. O que o Senhor nos prometeu há de realizar-se; é-nos uma garantia: com Ele reinaremos no céu. Mas o que é o céu? Não é um lugar físico preparado por Jesus para nós, mas um estado de graça plenificado, uma íntima união com Deus. No entanto, engana-se quem pensa que o céu é uma realidade póstuma. Não! Ela pode e seu antegozo deve iniciar-se cotidianamente na vida daqueles que se propõem a uma vida de intimidade com Deus. Quem assim vive, faz o “céu na terra”, pois vive na graça, não obstante as inúmeras dificuldades que possam se abater; e os sacramentos são os meios ordinários de possuirmos em nossa existência este estado de gozo antecipado que denominamos céu.
No Cristo gloriosamente reinante, encontramos a razão do nosso ser e temos a certeza de que a Igreja continua, sob impulso do Espírito Santo, a missão do Reino de Cristo. Como cristãos, inseridos no mundo, não devemos “ficar com a cara pra cima”, como reza o dito popular, esperando Jesus voltar, como que passivos e embasbacados. Mas, com o coração para o Alto e os pés no chão, devemos promover o Reino de Cristo: eis a missão da Igreja e, por ser dela, é também nossa.
Exultando de alegria, agradeçamos a Deus por tão grande dádiva, a de sermos chamados à sua Glória da sua posse com o Cristo que, ao romper a cortina do santuário, inseriu-nos na Sua vida divina, enquanto nutrimos a esperança entre os tormentos da vida. Que, celebrando, hoje, a subida do Senhor, nas idas e vindas das nossas atividades terrenas e cotidianas, imploremos e nos preparemos para a Sua volta no fim dos tempos.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).