Repercorrendo os períodos da história da Igreja e a densa literatura espiritual dos santos, é possível organizar vários significados sobre o termo, teologia. Contudo, todos remetem a mesma constatação, ou seja, Deus se manifesta no agora da nossa história e nos olha com misericórdia. Assim, a teologia é resposta ao chamado de Deus, que dá o primeiro passo em nossa direção, para nos chamar à santidade.
A teologia, desta forma, implica sempre a troca amorosa de olhares. Ao pousar o seu olhar sobre nós, Deus cura as nossas feridas, dissipa as trevas que se abatem sobre a vida, abrigando-nos em seu coração, que é o nosso verdadeiro lar. A indagação teológica, além de mostrar como Deus nos olha, coloca em nossas mãos a seguinte interrogação: Como estou olhando para Deus? Trata-se de uma questão relevante, pois ao olhar para Deus, estamos definindo as nossas relações com Ele.
Ao olhar para Deus, não podemos confundi-lo com uma espécie de gênio da lâmpada, que aparece diante de nós quando a esfregamos para realizar a nossa vontade, e logo depois voltar para o seu lugar. Olhando para Deus, deve surgir em nosso coração a mesma postura de Maria de Nazaré, isto é, devemos fixar o olhar em Deus, dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua vontade” (Lucas 1,38). Colocar a própria vontade nas mãos de Deus, foi e será o roteiro de santidade de homens e mulheres que querem ser santos.
A postura de Maria Santíssima, marcada por uma teologia genuína, ou seja, pelo abandono de si, e pela renúncia da sua vontade, contagia a vida e a espiritualidade de Teresinha, a santa do abandono. Dentre as pérolas espirituais deixadas pela padroeira das missões, há uma na qual a santa carmelita afirma: “Deus há de fazer todas as minhas vontades no Céu, pois nunca fiz a minha vontade na Terra”. Voltar o olhar para Deus com o desejo de servi-lo, abandonando-se em suas mãos generosas é o núcleo da teologia e dos projetos de santidade.
O profeta Jeremias expõe acerca de um modelo de abandono, bastante eficaz, que deve acompanhar o nosso itinerário teológico. A simplicidade do barro é intrigante, não impõe condições, somente se deixa moldar. O barro não olha para si, pois a sua confiança está nas mãos de Deus, o Divino Oleiro, que nos diz em cada Eucaristia: “Como é o barro na mão do oleiro, assim sois vós em minhas mãos (18,6)”.
Sob a intercessão de Santa Teresinha, peçamos a Deus, Pai Amoroso que continue reconstruindo a nossa vida com o barro da graça divina e rezemos com todo o povo: Senhor Deus, eu quero ser um vaso novo.
Padre João Claudio é pároco da paróquia Santa Teresinha (Bairro Robalo).