O Frei Miguel, Frei Michelangelo de Cingoli, viveu o seu ministério por mais de 30 anos na nossa Arquidiocese, de modo a ser conhecido como o “Santo de Aracaju”.
De acordo com a Normativa da Igreja, tendo o Frei Miguel, residido a maior parte do tempo e falecido aqui em Aracaju, a competência para instrução do processo de sua beatificação e canonização e as outras providências preliminares é do Arcebispo de Aracaju.
Foi assim que Dom José Palmeira Lessa aprovou, em 12 de junho de 2013, a oração que pede a beatificação de Frei Miguel. Dom João José Costa, depois de cinco anos da partida do Frei Miguel para a casa do Pai, com fama de santidade reconhecida pelos fiéis desta Igreja Particular, escreveu ao Dicastério das Causas dos Santos em 11 de janeiro de 2019, pedindo o “nulla osta” (nada obsta) e obteve em 16 de dezembro 2020 a permissão para instruir o processo, que devido à pandemia e outras dificuldades, somente agora foi procedido.
No dia 26 de agosto de 2024, três meses depois da nossa chegada à Arquidiocese de Aracaju, o Postulador-geral, Frei Carlo Calloni, através do Vice-Postulador, Frei Gleizer, buscou providenciar o parecer dos Bispos do Regional Nordeste 3, Bahia e Sergipe, e que fosse informado ao povo de Deus da abertura da causa de beatificação. Assim, nomeamos os oficiais, obtendo ainda em agosto de 2024, o parecer favorável dos Arcebispos e Bispos da Bahia e Sergipe, ocasionando a instrução do processo de beatificação, na semana passada.
De acordo com a Sanctorum Mater, instrução do Dicastério para as Causas dos Santos, no Art. 4, § 1º, a causa de beatificação e canonização diz respeito a um fiel católico que em vida, na morte e depois da morte gozou de fama de santidade, vivendo de maneira heroica todas as virtudes cristãs.
O mesmo documento afirma no Art. 5, § 1º, que “A fama de santidade é a opinião difundida entre os fiéis acerca da pureza e da integridade de vida do Servo de Deus e acerca das virtudes por ele praticadas em grau heroico”.
Já o Art. 6 reza assim: “A fama de sinais é a opinião difundida entre os fiéis acerca das graças e dos favores recebidos de Deus através da intercessão do Servo de Deus”. É compartilhada por uma significativa parte do povo de Deus. É espontânea, não artificiosamente, contínua e difundida entre pessoas dignas de fé (cf. Art. 7).
Essas exigências aplicam-se plenamente ao caso do Frei Miguel. Nessa fase diocesana do processo de canonização pedimos que todas as comunidades paroquiais continuem rezando a oração pedindo a beatificação do nosso Frei Miguel e se alguém alcançar alguma graça pela sua intercessão comunique ao Postulador e à Província dos Frades Capuchinhos da Bahia e Sergipe, para as providências devidas.
Como sabemos, o andamento de uma causa de canonização é complexo e progressivo. Instaurando o processo como foi feito, o Frei Miguel pode ser chamado de Servo de Deus. Prosseguindo o processo, tendo a Santa Sé reconhecido as suas virtudes heroicas, ele alcança a dignidade de Venerável. Depois, se, pela intercessão do Servo de Deus, Frei Miguel, for comprovado um milagre, será declarado bem-aventurado.
A canonização propriamente dita acontecerá com o reconhecimento do segundo milagre. Isso tudo com a graça de Deus. O processo de canonização mais próximo de nós foi o de Santa Dulce dos Pobres, concluído 27 anos após seu falecimento.
O Frei Benjamin Capelli, então Ministro Provincial dos Frades Capuchinhos da Província Bahia e Sergipe, devendo construir um convento e uma igreja em Aracaju, resolveu transferir de Vitória da Conquista, na Bahia, um frade bondoso, calmo, bom formador, competente e experiente em construções. Era Frei Miguel Ângelo Serafini que aqui chegou precisamente no dia 17 de junho de 1961. O lugar escolhido no Bairro América tinha um nome muito sugestivo: “sitio do paraíso”. O topo desta colina estava destinado a se tornar o paraíso na acepção da palavra. Não tanto pela beleza e grandeza das construções edificadas, mas, sobretudo pela vida e missão de alguém que não se inspirava no primeiro homem, Adão, feito do pó da terra, mas no celeste, Cristo Jesus, pobre, casto e obediente.
Continuaremos, na próxima semana, a falar sobre o “Santo de Aracaju”, o querido Frei Miguel.
Dom Josafá Menezes da Silva, Arcebispo Metropolitano de Aracaju.